Dessa vez, tudo havia sido especificamente nítido. Fecho os olhos e visualizo flashes, cortes, fragmentos. Tento não perdê-los, anoto algumas coisas, mas são muitas: as imagens formam grandes amontoados, e preciso navegar por elas, meio perdido.

Dessa vez, ela ria, gargalhava até escorrerem lágrimas de seus olhos. Eu, muito confuso, sem ter entendido o motivo daquele riso, sentia que talvez estivesse apaixonado por ela. Então eu decidia contar: mas, no instante em que eu abria a boca, uma voz masculina surgia ao meu lado, me perguntando: você tem certeza disso? Você vai lidar com as consequências?

E então eu percebia que não tinha certeza e não estava disposto. Na verdade, aquela voz grave e oculta me causava um grande choque: parecia que o mundo desabava. Essa frase passava pela minha cabeça no momento, assim mesmo, como se eu estivesse acompanhando a cena por uma narração externa: "parecia que o mundo desabava".

Então eu olhava em volta e tudo estava mesmo caindo, em câmera lenta, naquele imenso e brilhoso salão: as paredes, os lustres, as cortinas, as grandes portas de madeira. Eu entrava em pânico, mas ninguém parecia se dar conta. Todos estavam entretidos com a risada dela.

E só então, olhando aquela cena, percebi que o que me movia em sua direção não era paixão: mas algum ódio secreto, profundo, confuso.
consequências?
em câmera lenta