Cena 1: a moça fuma um cigarro, sentada em um dos bancos da Praça Mauá. Sinto uma atração irresistível de chegar perto dela. Quando me aproximo, ela se levanta, aparentemente sem ter me visto, e começa a andar. Aperto o passo, mas ela faz o mesmo, e logo estamos os dois correndo, ainda que ela não tenha olhado para mim em nenhum momento. Começo a ficar ofegante e desisto. Enquanto retomo o fôlego, vejo que nem sequer saí do lugar, e ela também não.
Cena 2: a moça vem me pedir um isqueiro. Estamos em uma festa de criança, na casa de festas em que um dia, quando eu era pequeno, quis fazer meu aniversário (meus pais não tinham dinheiro pra isso). Essa é uma das vezes em que consigo ver seu rosto, em todos os detalhes (me lembro perfeitamente, ainda agora). Procuro o isqueiro nos bolsos, mas não encontro, e começo a ficar meio constrangido, desconfortável. De repente, me dou conta de que não fumo. Sei então que a busca será, realmente, um fracasso, e digo para ela que não tenho, mas sinto muito. Ela me olha francamente desapontada, se vira e vai embora.
Cena 3: a moça está sentada no sofá de minha casa, bebendo alguma coisa colorida em um copo. Estamos em um encontro, pelo que parece. Sempre que tento ver seu rosto, tudo fica embaçado; por isso, olho apenas para suas mãos, que brincam com o copo. Uma música toca em algum lugar. Eu falo algumas coisas sobre a música, mas não consigo ouvir sua resposta: então me levanto para abaixar o som. Essa é a única vez em que consigo ouvir sua voz, que diz, com firmeza: "é como procurar uma agulha no palheiro isso, não?". Não entendo o que ela quis dizer. Quando me viro novamente, para perguntar, ela já sumiu.
a moça
sumiu
quando eu era pequeno,